

Quando seu mandato acabou, nem esperou Prudente de Morais chegar para tomar posse, estava muito doente e se afastou logo, embora tivesse muitos admiradores - conta a historiadora Isabel Lustosa, da Casa de Rui Barbosa, autora do livro "Histórias de Presidentes - A República do Catete" (Editora Agir).
Dono de uma casa no subúrbio e uma fazenda no interior do estado, o ex-presidente se afastou da vida política, segundo especialistas.
Floriano acaba sendo exaltado por ter uma vida simples, um despojamento com o exercício do cargo — conta o historiador Carlos Eduardo Sarmento, do Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. - Ele pegava o bonde para ir para casa, em Cascadura, onde ficava cuidando das rosas no jardim. Quando deixa a Presidência, com a aura de ter sido atraiçoado, morre pouco depois, recluso, vivendo como um cidadão comum, sem aspiração à participação política.

Ele saiu do Catete muito impopular, debaixo de vaias, com jornalistas lhe atirando caroços de jaca - conta Isabel. Já no fim do seu mandato, foram publicadas uma série de quadrinhas cujo tema era a solidão da qual ele sofria, à medida que os puxa-sacos iam se afastando e se voltando para o seu sucessor. Chamavam de "a solidão do Banharão", região de São Paulo onde ficavam suas fazendas, e para onde ele volta.

Ele era discreto, apagado até, e saiu de cena completamente. Foi para Itajubá, em Minas - diz Isabel Lustosa. - Era um sujeito muito simples, um representante da classe média no poder. Costumava dizer que, depois de ser presidente, o sujeito não poderia almejar mais nada na vida e nunca mais se envolveu em política.
Mas nem mesmo na República Velha essa foi a regra. Em geral, eles continuavam fazendo política, atuavam politicamente. Foi o caso de Rodrigues Alves (1902-1906), que se reelege presidente inclusive, e Hermes da Fonseca (1910-1914), entre outros - afirma Sarmento.
Isabel Lustosa concorda com o colega. - Quem tem uma base política, um grupo econômico, um projeto, continua no jogo - diz a historiadora.

De acordo com os historiadores, Juscelino Kubitschek (1956-1961), com sua plataforma desenvolvimentista e a construção de Brasília, foi um dos mais populares presidentes do país. Tinha planos declarados de voltar à Presidência em 1965, se elegeu senador em 1962, mas acabou sendo atropelado pelo golpe militar de 1964, que tirou João Goulart do poder depois da renúncia de Jânio Quadros, suspendendo a democracia por 20 anos.

Justamente por conta de hierarquia, eles se afastavam e silenciavam, caso do Médici, do Geisel e do Figueiredo, que chegou a dizer que queria ser esquecido - afirma. Mas isso tem a ver com o sentido da ação militar na política, não é padrão, destoa dos presidentes eleitos democraticamente.
Com o fim da ditadura e a retomada da democracia, na análise dos especialistas, a tendência é clara. Tirando Fernando Collor, que não era um político tradicional, não pertencia a um partido consagrado, e ainda ficou estigmatizado pelo impeachment, as denúncias de corrupção e a morte trágica de seu tesoureiro, Paulo César Farias, todos os demais presidentes do período têm atuação importante. Isabel lembra que mesmo o mais inexpressivo deles, Itamar Franco, elegeu seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, e é atuante na política mineira.

O Lula tem um carisma muito superior ao do Juscelino, vive numa sociedade de mídia de massa, tem uma popularidade altíssima e condições físicas e etárias para ser um ator político - analisa Sarmento. Embora diga oficialmente que está afastado, tudo leva a crer que continuará exercendo um papel importante e pode mesmo pleitear uma nova candidatura. De toda forma, ele é um referencial político sim, construiu esse lugar para ele, um lugar de articulador, de conciliador, que não se supunha que pudesse ocupar.
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