Uma lanterna que produz choques elétricos e pode até causar mortes
está sendo vendida livremente no comércio do Centro do Recife. Chamado
de lantaser (junção entre lanterna e a arma elétrica taser) em algumas
cidades do Sudeste, onde têm sido bastante comercializado, o artigo tem
preço entre R$ 25 a R$ 60 e pode ser encontrado em lojas de importados
no bairro de São José e no Camelódromo da Avenida Dantas Barreto.
Equipamento pode ser encontrado facilmente no bairro de São José. Foto: Paulo Paiva/DP/D. A Press.
Cardiologistas
alertam que as pessoas que recebem a descarga correm sérios riscos.
Apesar do perigo, o Exército e a Secretaria de Defesa Social não estão
fiscalizando a venda. O Diário comprou um equipamento ontem, no Centro
da cidade, após testar seu acionamento em várias lojas. De origem
chinesa, a lanterna vem com manual de instrução em inglês e poucas
informações sobre seu funcionamento. Entre as especificações do produto
estão o peso de 180 gramas e a corrente elétrica de 2,5 amperes.
A
estudante Roberta Asfora, 29 anos, comprou uma lantaser há cerca de
três meses. Ela contou que anda com o equipamento dentro do carro para
se defender de um possível assalto. “Sempre tive vontade de comprar
spray de pimenta. Como era mais difícil, optei pela lanterna. Encontrei,
por acaso, numa loja do Centro e a vendedora me explicou como
funcionava. A lanterna fica perto da marcha do carro, mas graças a Deus
nunca precisei usá-la.”
Ela acrescentou que no dia em que comprou
o artigo havia uma placa na loja alertando para que o cliente não
tocasse no produto devido ao risco de choque. “Eu até disse à vendedora
que aquilo era perigoso, mas mesmo assim comprei”, contou.
Parada cardíaca
O diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Nabil Ghorayeb, disse
à Agência Estado que “se a pessoa tiver arritmia cardíaca, ou se usa
dispositivo como marca-passo, pode ter uma parada cardíaca. Se não for
recuperada, leva à morte.”
Segundo o engenheiro elétrico Sérgio
Luiz Pereira, professor da PUC-SP, a tensão que consta no manual, 1
milhão de volts, é bem maior do que os 12 mil volts normalmente
presentes em fios de alta tensão. “Quando esses fios caem sobre um
carro, o incendeiam”, disse Pereira à Agência Estado. Para ele, a
informação do manual pode estar errada.
O engenheiro elétrico
Davi Martins Vieira, que analisou a voltagem da lanterna para o Bom Dia
Brasil, da TV Globo, averiguou a carga de oito mil volts, também
equivalente à de fios de alta tensão da rede elétrica. “Não se pode usar
um equipamento desses com um manual com pouquíssima informação e não
confiável. A pessoa está arriscada a ela mesma ter problemas.”
O
secretário de Defesa Social Alessandro Carvalho disse que a polícia não
tem como fiscalizar a comercialização, mas ressaltou que nunca se deve
reagir a assaltos. A fiscalização cabe à Receita Federal e à Secretaria
da Fazenda, mas apenas com relação à procedência e aos impostos.
O
Exército é responsável por fiscalizar alguns produtos de risco, mas a
lantaser não faz parte da lista. “Se as lanternas produzem choque, não
podem estar sendo comercializadas”, ponderou o tenente-coronel Helder de
Barros, chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 7ª
Região Militar.
Saiba mais
A lantaser não
está na portaria do Ministério da Defesa que regulamenta as armas não
letais e a polícia ainda não está fiscalizando sua comercialização.
Apesar disso, comerciantes têm evitado deixar o produto exposto nas
lojas
Com aproximadamente 180 gramas, a lanterna com choque é feita de alumínio e resiste a quedas
Uma
rajada contínua de cinco segundos pode imobilizar o receptor, causando
desorientação, perda de equilíbrio e entorpecimento por alguns minutos
Em contato com o corpo, libera uma descarga elétrica de aproximadamente 8 mil volts, o que pode causar paradas cardíacas
Produtos controlados pelo Exército
-Armas
e seus acessórios-Munições -Explosivos-Produtos Químicos Sensíveis
(Prec GQ e GQ)-Produtos Químicos de Interesse Militar-Artifício
Pirotécnico -Blindagens e coletes -prova de balas -Taser -Diversos
Fonte: 7ª Região Militar do Exército
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