segunda-feira, 2 de maio de 2011

BOVESPA. Ações. Entenda os ajustes de preços das ações.

O que são eventos e ajustes?

Os eventos contábeis se dividem basicamente em juros sobre capital, bonificações, dividendos, cisão, grupamento (implit), desdobramento (split), subscrição, etc. Todos esses eventos podem afetar diretamente o valor de uma ação. Cada evento tem um dia marcado para ser aplicado, e no dia em que ocorrem esses eventos é utilizado o termo "EX" para indicar que o ativo possui um evento. A Bovespa, por definição, usa alguns códigos para indicar esses eventos:

ES : ex-subscrição
ED : ex-dividendos
EB : ex-bonificação
EJ : ex-juros
EC : ex-cisão
EG : grupamento


Ações “Com” (cheias) - são ações que conferem a seu titular o direito aos proventos (dividendos, bonificação, subscrição) distribuídos pelas empresas.

Ações “Ex” (vazias) - são ações cujo direito aos proventos (dividendos, bonificação, subscrição) já foram exercidos pelo acionista.

Somente podem ser negociadas em bolsa as ações que não possuam proventos anteriores a receber. Assim, quando a assembléia de uma empresa aprova a distribuição de um provento, as ações passam a ser negociadas “ex”.

Tudo é determinado por data de aquisição. Por exemplo, a ação XYZ a partir de uma determinada data passa a ser “EX”, ou seja, só terá direito aos proventos quem adquiriu as ações antes desta data.


Porque os ajustes são importantes?

Quando o preço de um ativo muda, devido a um evento corporativo, os preços nos gráficos precisam ser ajustados de forma que a variação entre cada período represente exatamente a oscilação ocorrida nos pregões. Se os ajustes não forem feitos, as informações dos gráficos podem representar uma oscilação entre os períodos diferente da que realmente ocorreu, prejudicando assim a análise do ativo.
Gráfico ajustado por Dividendos

Uma questão que alguns investidores e traders podem não ter ciência é que as cotações de uma ação sofrem um ajuste após a ação passar a negociar "ex", ou seja, após os proventos terem sido alocados ao acionista.

Para quem não conhece, existe uma data, chamada data “com” que é aquela até a qual o investidor deve estar de posse da ação para receber os proventos. Após esta data, as ações ficam "ex", o que significa que os proventos já foram alocados. Isto significa que, quem comprar após a data "com" já não terá mais direito aos dividendos, somente aos próximos.


Exemplo prático

Vamos imaginar o caso de uma ação que vale R$ 100,00 e que tem proventos de R$ 10,00 previstos, com data "com" fixada para a próxima sexta-feira. Isso significa que quem estiver de posse das ações até o fechamento do pregão de sexta-feira terá direito a receber os proventos em dinheiro em sua conta corrente, em uma data ainda a ser determinada (não confunda data "com" com data de pagamento).

O que acontece com a ação na segunda-feira? Em geral, as ações passam por um ajuste, já que não são mais negociadas com o benefício de proventos. Ou seja, seu valor passa a ser menor, já que a parcela referente aos dividendos já foi alocada. Para entender melhor, é mais fácil imaginar que a ação, antes da data "com", era composta por duas partes distintas.

A primeira parte correspondia aos proventos, ou seja, R$ 10,00. Este valor, como você pode imaginar, não varia, já que corresponde à "promessa" da empresa alocar R$ 10,00 por ação de seus lucros para seus acionistas. Já a segunda parte, ou a ação propriamente dita, equivalia à diferença entre o valor total (R$ 100,00) e o valor do dividendo (R$ 10,00), ou seja, R$ 90,00.


Qual o valor após o ajuste?

Com este exemplo, fica fácil entender qual será o valor ajustado da ação a partir da segunda-feira. Como a parte referente aos dividendos já foi distribuída, restou a parte que efetivamente equivale à ação, ou seja, R$ 90,00. O valor ajustado de fechamento da sexta-feira, portanto, passará a ser R$ 90,00, contra um valor "nominal" (que incluía os proventos) de R$ 100,00 que foi registrado no pregão.

Pode parecer estranho que o preço de fechamento do pregão de sexta-feira mude de R$ 100,00 (após o pregão de sexta-feira) para R$ 90,00 (a partir da abertura de segunda-feira), mas é assim mesmo que ocorre, pois a parte referente ao dividendo é excluída.

Quando o gráfico está ajustado e um ativo paga, por exemplo, R$ 10,00 de dividendos por ação, todas as cotações anteriores são ajustadas em R$ 10,00, ou seja, subtrai-se R$ 10,00 de todas as cotações passadas do ativo. Caso não ocorra o ajuste, ficaria a impressão de que a ação fechou a sexta a R$ 100,00 e abriu a segunda a R$ 90,00, uma perda de 10%. Mas esta perda, na verdade, não ocorreu, pois o valor nominal da ação caiu, porém a diferença foi alocada na forma de proventos.

Este é um ajuste natural do mercado, não tem a ver com desvalorização do ativo. Isso tudo é feito para que o investidor tenha o mesmo patrimônio com ou sem dividendos. Ele teria os
R$ 100,00 sem os dividendos, e com os dividendos ele tem os mesmos R$100,00, mas R$ 10,00 em dinheiro e o restante em ações.

Alguns traders preferem trabalhar com gráficos não ajustados, pois dizem que geralmente os dividendos provocam uma mudança muito pequena nos preços dos ativos e a mudança do ajuste pode mascarar uma resistência, que são formadas pela memória dos participantes do mercado.


Cálculo para ajuste por dividendos:

(Preço no último dia com-dividendo – Dividendo por ação) ÷ Preço no último dia com-dividendo. Com isso acharemos o fator de reajuste.

Multiplique os valores no período antes do ex-dividendo pelo fator de reajuste. Pelo nosso exemplo seria: R$ 100,00 – R$ 10,00 = R$ 90,00 ÷ R$ 100,00 = R$ 0,90. Este é o fator.

Como a cotação era R$ 100,00, multiplicamos pelo fator (R$ 0,90) e temos os R$ 90,00. Este ajuste acontece em todas as cotações anteriores. Pelo nosso exemplo, na sexta-feira a ação fechou a R$ 100,00. Na segunda, se os preços abrirem a R$ 90,00, a variação será 0%, pois pelo ajuste, a cotação anterior é exatamente os R$ 90,00.




Cuidado com o ajuste

Entender como funciona este ajuste pode evitar um erro básico que, às vezes, é cometido por investidores iniciantes. Caso o ajuste não ocorresse, seria muito fácil ganhar dinheiro. Bastaria comprar a ação a R$ 100,00 no meio do pregão da sexta-feira, receber o dividendo de R$ 10,00 e vender a mesma ação a R$ 100,00 no início do pregão de segunda. Um ganho de 10% sem esforço!

Como o mercado se ajusta, a possibilidade deste ganho "fácil" não existe. Na verdade, isso mostra que existem duas formas básicas de ganhar com proventos: posicionamento de longo prazo na ação, se beneficiando de um fluxo de proventos, ou ter a sorte de comprar o papel pouco antes de um anúncio inesperado de proventos, o que geralmente acaba puxando para cima as cotações.



Gráfico ajustado por Splits e Implits

Suponha que um ativo esteja cotado a R$ 80,00, e sofrerá um Split de 2/1, ou seja, uma ação irá se dividir em duas. Com isso, a ação que está cotada a R$ 80,00 irá ficar cotada a R$ 40,00. Quando isso acontece, todas as cotações anteriores são divididas por dois, se o gráfico estiver ajustado para Splits. Pelo nosso exemplo ela se dividirá em duas, mas podem ocorrer Splits de diversas proporções. Se o gráfico não estiver ajustado para Splits, apareceria um Gap de baixa de R$ 40,00 no gráfico.

O mesmo é válido para Implits, ou seja, uma ação que esteja cotada a R$ 1,00, por exemplo, e sofrerá um Implit de 10/1. A ação cotada a R$ 1,00 passará a ser cotada a R$ 10,00 cada. Todas as cotações anteriores ao Implit passam pelo mesmo ajuste nos preços, ou seja, nesse exemplo, seus preços seriam multiplicados por dez. Um gráfico não ajustado para Implits mostraria um Gap de alta de R$ 9,00.



Gráfico ajustado por Bonificação

Com o ajuste de bonificação, todas as cotações anteriores ao primeiro dia de negociação ex-bonificação são divididas pelo fator F, já as quantidades são multiplicadas pelo fator. O fator F é obtido da seguinte forma:

F = (bonificação em % ÷ 100) +1


Proporção da bonificação: É a quantidade teórica (normalmente fracionária) de ações que o acionista receberá, sem ônus, para cada ação com direito de bonificação que possuir. Ex.: se a Assembléia deliberou uma bonificação de 52,4% do capital social, o acionista receberá 0,524 novas ações para cada ação que possuir.

Pela formula, o Fator de bonificação seria: 52,4% ÷ 100 = 0,524 + 1 = 1,524.

O preço “ex-bonificação” é o preço “com-bonificação” dividido pelo fator de bonificação.

Exemplo: R$ 100,00 ÷ 1,524 = R$ 65,61. Com isto, a ação que estava cotada a R$ 100,00 ficará cotada a R$ 65,61 e o investidor receberá a diferença em bonificação.


Suponha que tenhamos 1.000 ações ao preço de R$ 100,00 = R$ 100.000,00. Quando recebermos a bonificação na proporção de 52,4%, teremos 1.524 ações, que cotadas a R$ 65,61 farão com que nosso patrimônio seja R$ 100.000,00 novamente.

Quando a bonificação é em dinheiro, o cálculo é como nos dividendos, ou seja, se houve bonificação de R$ 1,00 por ação, este valor vai ser subtraído das cotações anteriores.


Além dessas situações, sempre que a empresa emissora comunicar a ocorrência de fatos que impliquem em alterações na quantidade total de seus títulos (conversão de debêntures em ações, cancelamentos de ações, conversão de um tipo de ação em outro, etc.) serão efetuados os ajustes pertinentes.

Todos esses ajustes são feitos pela própria CBLC/BM&FBovespa e NYSE (no caso de ADRs) e seguem uma fórmula matemática pré-definida.

Neste momento você deve estar se perguntando: “como é possível ganhar dinheiro, se sempre que há algum tipo de provento ocorre o ajuste da ação?”

Acontece que quem ganha dinheiro com proventos é o investidor e não o trader. Se um investidor se posiciona em um ativo e este ativo libera proventos e o preço é ajustado, este investidor não está se preocupando, pois, quando os preços voltarem para o nível de antes do ajuste, ele terá o ganho do provendo e as ações valerão o mesmo de antes. Aí está o ganho. Por isto que focar em receber proventos é para investidor (longo prazo) e não para trader.

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