domingo, 14 de novembro de 2010

Ode à eterna infância

Aldenete teria idade para casar e engravidar. Morar com seu marido à beira de uma estrada de barro, no interior do Ceará, numa casinha simples, mas cômoda e confortante. Ou teria idade para ir ao baile de forró do centro da cidade, e, com as primas de idades parecidas, faria os rapazes mais tímidos corarem só de lançar a eles um sorriso arquitetado pela vontade de provocar. A idade já lhe começaria a ser preocupação a média prazo, pois estaria se aproximando daquelas crises estúpidas que acometem qualquer moça que se afasta de seus vinte e poucos anos e encosta nos quarenta e tantos. Mas Aldenete, de 29 anos, aprendeu a dizer “mamãe” a pouco mais de um mês. Risonha, a moça, de 12 quilos e quase quarenta centímetros, é, também, uma criança de pouco mais de um ano de idade.
Entre a infância enjaulada num corpo cansado, rechonchudo, e a maturidade fantasmagórica, Aldenete não pode ser definida, a não ser com a condição de que, diante de sua magnífica existência, aceitemos o preceito de que tempo cronológico e tempo psicológico são coisas distintas. Quem está diante de Aldenete está diante do paradoxo da coexistência de duas contagens de tempo antagônicas.
Despercebido, na fase inicial, seu hipotiroidísmo, coube à família criar a menina que jamais será adulta. Desde 1981, Aldenete está rodeada de bonecas, chocalhos e chupetas. Na sua carteira de identidade, a foto, atual, impulsiona qualquer um a acreditar que se trata de um engano. Afinal, é a foto do bebê que está no documento errado, ou a data é que foi impressa com dígitos errados? Mais do que um caso especial da medicina mundial, Aldenete é apenas um bebê que está encostado numa pedra. E, tanto um - pedra - como o outro - Aldenete -, não podem ir além do que são. E isso não é desesperador; pelo contrário. Uma vida acomodada na eterna infância; quem negaria tal oferta, acaso nos fosse dada a chance de evitar o enfadonho ritmo do amadurecimento?

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