segunda-feira, 29 de março de 2010

O mapa do mercado de luxo no Brasil

Com a chegada de marcas como Aston Martin, Bentley, Burberry e Hermès, a venda de produtos de luxo deve crescer acima de 50% em 2010. Se os números se confirmarem, o ano pode ser o melhor da história do setor no país

Por Elisa Campos e Soraia Yoshida 
 Divulgação
Butique Chanel no Rio: primeiro espaço do tipo para produtos exclusivos de beleza e perfumes, mas não o último
Este ano, a cada 35 dias, um brasileiro deve comprar uma Ferrari. Não é, necessariamente, o mesmo consumidor que visitará as lojas DVF de Diane Von Furstenberg, Burberry, CH Carolina Herrera e Aston Martin, que serão inauguradas ainda no primeiro semestre, ou as novas butiques da Louis Vuitton e da Cartier. O cliente do mercado de luxo vai usar muito seu cartão de crédito. Com um gasto médio de quase R$ 3,5 mil por compra, o consumidor brasileiro do mercado de luxo deve impulsionar em até 50% as vendas de dezenas de marcas – consolidando 2010 como o melhor ano para o luxo no país. 

No ano passado, mesmo sob o efeito da crise financeira mundial, o universo do luxo faturou em torno de US$ 6,45 bilhões no Brasil, 8% a mais do que os US$ 5,99 bilhões registrados em 2008, segundo o último estudo da empresa de pesquisas GfK Brasil em parceria com MCF Consultoria, especializada na área. Em 2009, o Brasil assistiu à chegada das grifes Hermès, Missoni, Christian Louboutin, Bentley, Lamborghini e Bugatti, que investiram juntas US$ 830 milhões. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no mesmo ano, as vendas de veículos importados passaram de 370.937 para 485.428 carros, um avanço de 30,9%.
Em 2009, mesmo com a crise financeira mundial, o mercado de luxo faturou US$ 6,45 bilhões no Brasil, 8% a mais do que em 2008

“Crescemos muito mais do que o mercado de automóveis como um todo, até porque as classes A, AA e AAA são menos afetadas na postura de compra do que outras classes”, diz Thiago Lemes, gerente de Produto Importação da Audi no Brasil. A empresa, que lançou no ano passado o modelo R8 V10 esportivo, vendeu quatro unidades logo na primeira semana, por cerca de R$ 696 mil cada um.

O valor dos importados de luxo, sejam carros, relógios, joias ou sapatos, sofre tributação superior a 100%. Mas isso parece não ter sido empecilho para as empresas. A Jaguar, por exemplo, que detém além da própria marca, a Land Rover, espera um crescimento de 73% este ano, o equivalente à venda de 6 mil unidades. Além disso, o crescimento econômico também favorece as marcas de luxo.
“Com um cenário positivo, mais gente se interessa por comprar um carro de luxo”, diz John Peart, presidente da Jaguar na América Latina. O raciocínio também é acompanhado pela Aston Martin, marca britânica muito associada às máquinas dos filmes de James Bond. A partir de maio, a marca terá uma loja em São Paulo. Outro grupo de luxo que se prepara para aportar por aqui é o Gucci, ao qual pertencem as marcas Yves Saint Laurent e Bottega Veneta. Além da Ásia, a marca pretende expandir operações na América Latina, com ênfase em três países: México, Brasil e Chile.


Época NEGÓCIOS
Ainda há espaço para crescer no país. Relatório do banco Merrill Lynch, publicado em junho do ano passado, mostra que existem hoje no Brasil 131 mil pessoas com investimentos de pelo menos US$ 1 milhão. Em 2009, o país ultrapassou a Austrália e a Espanha no número de milionários, tornando-se a décima nação em contas bancárias com mais de seis zeros. Pelos cálculos da revista Forbes, que publica anualmente um ranking com os mais ricos do mundo, o Brasil também nunca teve tantos bilionários: são 18 na lista e, pela primeira vez, um deles, o empresário Eike Batista, ficou entre os dez primeiros, mais precisamente na oitava posição.
O mercado imobiliário também vive um bom momento. As construtoras apostam em lançamentos de altíssimo padrão. Pesquisa da Associação de Investidores Estrangeiros em Imóveis (Afire, na sigla em inglês) colocou o país em segundo lugar como melhor destino para investimentos no setor em 2009. A indicação para 2010 se mantém, já que o setor voltou a se aquecer no final do ano passado.
A empresa hoteleira Four Seasons anunciou que já está negociando com investidores brasileiros e internacionais parcerias para a construção de até três hotéis da rede no país – um deles possivelmente no Rio de Janeiro até 2014, quando será realizada a Copa do Mundo do Brasil. O grupo LVHM, controlador de marcas de luxo como Louis Vuitton, é outro que tem planos de abrir aqui um hotel de luxo. Céline Kay, diretora do primeiro hotel do grupo no mundo, afirmou que o modelo de negócio da companhia terá uma boa aceitação no Brasil. Louis Vuitton, Four Seasons e companhia estão de olho nos brasileiros capazes de gastar mais de R$ 30 mil em uma bolsa ou R$ 5 milhões num imóvel.


Luxo emergente
“O Brasil está em evidência”, afirma Veronique Claverie, diretora de Marketing e Operações da Cartier do Brasil. Segundo ela, o mercado internacional vive um momento em que há interesse em iniciar ou expandir atividades no país. “O Brasil teve um desempenho incrível no ano passado. E quando o consumidor está confiante, ele consome mais.”
 

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Show Room da Lamborghini, em São Paulo: seis carros de R$ 1,5 milhão vendidos em poucas semanas
A Cartier negocia a abertura até junho de uma nova loja, agora em um shopping de São Paulo. O objetivo da joalheria – considerada a marca de luxo mais cobiçada pelos endinheirados da China, segundo o mais recente relatório Hurun – é crescer acima de 10% no Brasil. O avanço de dois dígitos, aliás, é praticamente um consenso nesse mercado.

“No passado, as empresas priorizavam os mercados capazes de consumir grandes volumes como Estados Unidos e Europa. Só que agora esses mercados estão saturados e as marcas se voltaram para os países emergentes, como o Brasil, onde a demanda pelo luxo cresce”, diz Francisco Longo, presidente do grupo Via Itália, representante das cobiçadas marcas italianas Ferrari e Maserati. 
As marcas de luxo internacionais preferidas dos brasileiros
Posição
Empresa
(%)
1 Reprodução Internet Louis Vuitton
23%
2 Reprodução Internet Giorgio Armani
10%
3 Reprodução Internet Chanel
8%
4 Reprodução Internet Christian Dior
6%
5 Reprodução Internet Gucci
5%
6 Reprodução Internet Tiffany & Co
4%
7 Reprodução Internet Ferrari
4%
*Fonte:GfK e MCF Consultoria (pesquisa de 2008/2009)

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imagesSandra Bullock na entrega do Globo de Ouro: desfilando o esmalte Particulière, da Chanel
A Lamborghini estreou por aqui no quarto trimestre do ano passado e logo nas primeiras semanas encontrou seis brasileiros felizes em pagar R$ 1,5 milhão para levar uma máquina da marca para casa. O showroom, que custou cerca de R$ 2 milhões, deve continuar movimentado em 2010. Segundo projeção do Grupo Via Itália, que comercializa carros om preço médio de R$ 700 mil, a projeção é de crescimento entre 20% e 30% nas vendas de seus automóveis neste ano.
Mais interessada no público feminino, a Chanel também se instalou no país, mas precisamente no Rio de Janeiro, com a primeira butique exclusiva de cosméticos da marca na América Latina. Inaugurada no início de março, a loja conta com um espaço olfativo que destaca todas as nuances do perfume, como uma determinada flor ou fruta que entram na composição da fragrância. O retorno até agora é para deixar qualquer investidor sorrindo: já há fila de espera para produtos como o esmalte Particulière, lançado em janeiro e amplamente “desfilado” por celebridades como as atrizes Sandra Bullock, ganhadora do Oscar, e Demi Moore, além da cantora inglesa Lily Allen.

 DivulgaçãoSarah Jessica Parker em "Sex and The City 2": Louboutin dourado causou frenesi nos blogs e virou "must have"
A Chanel não é a única a ter filas de espera de mulheres em busca de seus produtos. O tempo para usar um par de sapatos de salto alto vermelho da coleção Simple Pump, de Christian Louboutin, vendido na única loja da empresa no Brasil, em São Paulo, pode chegar a quatro meses. Já para desfilar pelas ruas no volante de alguns utilitários da Land Rover, são necessários três meses de espera.

A vez da moda

Apesar da disputa entre carros, jóias e cosméticos, no mercado de luxo brasileiro a liderança absoluta é do mundo da moda. Das empresas voltadas ao mercado AAA (segmento exclusivo formado pelos brasileiros mais ricos do país), 27% atuam em moda, seguidas por calçados (17%) e automóveis (10%). Em termos geográficos, São Paulo e Rio de Janeiro ainda são o grande pólo. Entre os consumidores dispostos a gastar milhares de reais em uma só compra, 51% vivem em São Paulo e 15% moram no Rio de Janeiro.

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