segunda-feira, 29 de março de 2010

50 anos de uma tragédia sertaneja

Hoje relembra-se os 50 anos do rompimento da barragem do açude Orós. Muitos ainda lembram do sofrimento das famílias que moravam nas proximidades que tiveram que sair ás pressas de suas casas em balsas, canoas ou nadando
Fonte: O Povo.
Açude segue encantando e ajudando a população da região. Mas a 
tragédia de 50 anos atrás ainda está presente no imaginário local, 
sobretudo dos moradores mais antigos
``A água invadiu as casas de manhãzinha. Vinha depressa e a gente na correria pra fugir da enchente. Muitos saíram já com a água na cintura e quando não dava tempo esperar pela balsa, iam mesmo era nadando. A correnteza era forte e a gente via descendo com as águas portas, guarda-roupas, mesas, cadeiras... Restava dizer adeus à nossa Conceição``.

As recordações da manhã de 26 de março de 1960 emocionam os mais velhos. Chico Matias, Antônio, Zé Justino, dona Alzira, Raimundo Jacinto, dona Vilany lembram do dia em que se rompeu a barragem do açude Orós e do sofrimento dos que moravam no lugarejo de Conceição do Buraco. ``Teve gente que jura que morreu gente arrastada pelo mundão de água, mas não morreu não. Todo mundo nadava como piaba``, afirma seu Matias.
Os acontecimentos de 50 anos causam rebuliço quando lembrados por quem deixou as casas fugindo da água que transbordou do açude ainda em construção. Cada um tem uma lembrança para contar. Acredita-se que 170 mil tiveram de abandonar às pressas as moradias devido a inundação causada pela cheia do rio Jaguaribe que destruiu a barragem do Orós.
Perderam todos os bens materiais além de plantações, rebanhos, porém não se tem notícias de mortes, segundo os mais velhos, ou do abandono da região. As famílias queriam permanecer por perto e conseguiram formar a nova vila (Guassussê).
No livro ``A Tragédia do Orós`` - Documento Histórico, o professor Pedro Sisnando Leite, vice-presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, confirma que ``não houve mortes ocorridas por afogamento durante as inundações``. Ele diz ainda que houve providências com a vacinação para evitar surtos epidêmicos.
Dona Alzira, 85, ainda lembra da música que cantou na época: ``Adeus casa que eu morava/Adeus minha Conceição que eu tanto amava.../Fiquei sem minha Conceição amada/Fiquei sem terra, sem casa e sem nada``. E foi assim mesmo que a população dos lugarejos inundados ficou, mas não faltou a solidariedade. Parentes, amigos, voluntários, igreja católica e órgãos governamentais cuidaram de atender às vítimas. Todas as manifestações estão registradas nas páginas do O POVO da época.
Mesmo antes do arrombamento da barragem, já eram divulgadas matérias que se referiam ao perigo da cheia do rio Jaguaribe e da força das águas na barragem em construção do açude.

SAIBA MAIS
> O açude Orós é o segundo maior da Bacia do Alto Jaguaribe - atrás do Trussu, em Iguatu. O Orós tem capacidade total de 1.940.000.000 metros cúbicos.
> O Orós abrange três municípios: Orós, Quixelô e Iguatu. Quarenta e cinco localidades utilizam as águas principalmente para a aquicultura e pecuária. Na área do entorno do açude são 770 rendeiros e 677 pescadores matriculados. Existem 30 projetos de criação de tilápia em gaiolas (foto)
> De acordo com o Dnocs, o açude sangrou nos anos de 1974, 1985, 1989 (duas vezes), 2004, 2008 e 2009. Ontem, estava com 84% da capacidade.
> Barcos fazem o transporte de alunos das localidades que ficam do outro lado do rio como Mata Fresca, Riacho e Pitombeira. Também fazem a travessia de turistas para um hotel e casas de veraneio.

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