sábado, 27 de julho de 2013

O Estilo dos Jesuítas

Homenagem ao Papa Francisco, o primeiro Papa da Ordem dos Jesuítas,  que está no Brasil, prestigiando a Jornada Mundial da Juventude.
No volume V da  Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1941, Lúcio Costa, um dos Arquitetos da construção de Brasília, publicou um longo artigo, com mais de 100 páginas, sobre a arquitetura jesuítica no Brasil.  E, quando se fala sobre arquitetura, arte ou estilo jesuítico, tem-se em mente o estilo barroco.  O estilo artístico predominante no período colonial brasileiro.   Para Lúcio Costa, “deve-se entender por barrocas, dentro do critério histórico habitual, a maior parte das manifestações de arte, compreendidas entre a última fase do Renascimento ( séc. XVI)  e o novo surto classista de fins do século XVIII e, no  Brasil, até os princípios do século XIX”.
Para Lúcio Costa, é incorreto reduzir a amplitude do barroco simplesmente a uma “arte jesuítica”. Mas existe uma razão para isto, pois a Ordem dos Jesuítas surgiu nos fins do Renascimento, quando os primeiros sintomas do barroco já se faziam sentir.  Inclusive, a “igreja mãe”  do estilo barroco é a Igreja do Gesú, em Roma, onde morava o Fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola.   O estilo barroco se desenvolveu, principalmente, nos países de línguas latinas e suas colônias. O barroco não é apenas um estilo de arte, mas, muito mais, um estilo e uma compreensão de vida. Desta forma, podemos caracterizar o poder político predominante entre os séculos XVI e XVIII como “ poder barroco”.
Palácios e outras construções eram barrocas.  A música, a dança, as festas,  a cultura, em geral, eram barrocas.  Também as músicas sacras e as cerimônias religiosas eram barrocas. A literatura era barroca. Para verificar isto, basta ler os Sermões de Antônio Vieira.  As colônias portuguesas e espanholas são riquíssimas em testemunhos barrocos. Dali a riqueza barroca no Brasil, com destaque para Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.
A denominação do barroco como “estilo jesuítico” condiz, de certa forma, com a época histórica, e com o surgimento da Ordem dos Jesuítas, uma Ordem Religiosa da Contra-Reforma. Assim, o barroco também é caracterizado, às vezes, como uma arte da contra-reforma.  Predominam, na época, os reis com poder absoluto. Exalta-se o poder absoluto do Papa, a quem se deve obediência sem restrições.   O conceito  barroco de Deus exige que os homens se prostrem de joelhos em seus templos. Por isto, a disposição psicológica que se tem, quando se entra numa igreja barroca,  é prostrar-se envolto pela grandiosidade da arte, da música e do cerimonial. A grandiosidade do poder sagrado exige do homem a sua submissão, lembra-lhe  os seus pecados, a sua insignificância. E diante de tal grandiosidade o homem é levado a se arrepender, a confessar seus pecados, e a temer a condenação ao inferno. Assim, incute-se nos fiéis mais o temor de Deus do que o seu amor.
Mas, sem dúvida,  a arte barroca ainda hoje nos impressiona em muitos sentidos: sua beleza, sua grandiosidade, sua capacidade de inspiração. Além disto, conhecendo suas características e seus objetivos, entenderemos melhor o estilo de vida das gerações que viveram  durante os séculos  que  produziram as maravilhosas obras destas épocas. Infelizmente, muitos responsáveis pela cultura em nosso país não sabem dar o devido valor às obras barrocas que nos cercam.   Também em Pernambuco não existe uma suficiente consciência para a conservação de nossos monumentos barrocos: igrejas, esculturas, etc. Ainda falta muito ao setor turístico para dar o devido valor a tanta arte, muitas vezes, em processo de deterioração no Recife, em Goiana e em outras localidades do Estado.  Um potencial turístico inestimável. Pena, tão pouco valorizado.
Com a tentativa de relacionar o Papa Francisco com o estilo barroco (estilo jesuítico) quero entender que o Papa Francisco, um jesuíta, está dando demonstrações que ele significa uma ruptura com o “modo de vida barroca”. No período barroco atribuía-se poder absoluto ao Papa e aos reis.  O Papa Francisco já desceu um degrau do trono papal. Já não usa mais todos os trajes do tempo dos Imperadores Romanos e dos Reis Barrocos. Isto é um sinal de ruptura com o  modo de entender o mundo à base do “estilo de vida barroca”.
Se o Papa Francisco, realmente quiser voltar ao evangelho de Jesus Cristo, ele poderá aproveitar o seu “poder de serviço” e não de “dominação” para se afastar ainda mais destes tempos absolutistas do passado. Por exemplo, poderia acabar com os cardeais, ainda com trajes barrocas espalhafatosas dos tempos barrocos, com sapatos vermelhos e roupas de papai Noel. Os cardeais, simplesmente são resquício dos tempos  de poderes reais absolutistas (Príncipes da Igreja!!). O que isto tem a ver com o Evangelho de Jesus Cristo?
O Papa Francisco também poderia aproveitar o seu “poder de serviço” para acabar com os Núncios Apostólicos. Por que o representante da Igreja perante o poder político não poderia ser o Presidente da Conferência Nacional  dos Bispos em cada país? Por que gastar tanto dinheiro com cargos políticos, pois o Núncio nada mais é do que isto, quando a missão da Igreja é espiritual , cultural e civilizatória? O Papa Francisco, se realmente deixar o mundo barroco, marcará uma ruptura histórica com tudo que desviou o cristianismo de sua verdadeira mensagem para a humanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário