sábado, 27 de agosto de 2011

O chororô dos juízes e o papel dos jornalistas

Sob o título "O chororô do jota maiúsculo", o artigo a seguir é de autoria da juíza de direito Carolina Nabarro Munhoz Rossi, de São Paulo. Foi publicado originalmente no site "Judex, Quo Vadis". 
Qualquer pessoa minimamente vinculada à sua profissão é motivada pelo ideal de realizar um bom trabalho e ter o mesmo reconhecido, com um elogio, um aumento ou uma promoção.
Pois bem, não há esse tipo de prêmio para o juiz de direito. Não há promoção, não há aumento e nem reconhecimento? Convenhamos...
Quem analisa se ele trabalha bem? Sempre há, no mínimo, dois lados a se considerar em cada julgamento e o juiz dará razão a um deles, em maior ou menor proporção. O lado que perde, como se diz popularmente, vai criticar o juiz porque isso é mais fácil do que admitir que talvez não tenha razão, ou que seu advogado não trouxe a prova necessária. A culpa é sempre do julgador, que não julgou direito. Quem ganha também não elogia porque o juiz apenas viu o que era óbvio. E demorou, hem? E se for questão patrimonial, agora até conseguir receber, com esse juiz lerdo... Nenhum juiz trabalha esperando esse tipo de elogio, que fique claro, ou não poderia fazer o que se espera dele.
O juiz é considerado um mal necessário, que não se torna um bem nem mesmo quando trabalha direito e julga corretamente.
Ninguém gosta de ser julgado.
Porque o juiz é aquele que olha de cima, à distância, para poder ver com clareza o quadro que se apresenta, as verdades de cada um e julgar com isenção. Muitos se sentem pequenos perto do juiz, sentem que perdem o controle de suas vidas e deixam a decisão nas mãos de outra pessoa, o que não é confortável.
Não poder ter qualquer proximidade com aquele que vai decidir coisas tão íntimas certamente não ajuda, mas sem essa distância como se garantiria a imparcialidade? O juiz torna-se uma figura sem rosto, respeitada mas muitas vezes odiada. Então, por algum desses revéses, um destes julgadores, deixa cair uma parte da máscara que lhe cobre o rosto e mostra um pedaço do ser humano imperfeito que é e isso basta para que toda a sua humanidade seja atirada sobre sua face, por todos aqueles que já estiveram na situação incômoda de por ele ser julgados, como o maior dos defeitos.
Porque vá lá ser julgado por um ser sem face e quase inumano, mas ser julgado por alguém tão humano como qualquer outra pessoa, com qualidades e defeitos, aí já é demais!
Quando então os defeitos são graves demais e demonstram alguma inaptidão para a carreira, todos os juízes passam a ser considerados inaptos. Basta um julgador praticar um crime para que todos os magistrados se vejam sentados no banco dos réus sem direito a defesa ou julgador isento. Todos condenados, sem perdão, por eventual falha de alguém que não honre a toga que usa...
Nós, juízes, estamos acostumados a trabalhar apenas por amor à profissão, por acreditar que podemos fazer alguma diferença, mas custamos a nos acostumar a sermos taxados de injustos ou corruptos por erros de terceiro, quando só julgamos cada um por seus próprios atos, sem generalizações.
Não se trata de "chororô".
Custa-nos ver o Poder que presentamos maculado por atos de pessoas que jamais deveriam ter feito parte dele, e que nunca verdadeiramente o integraram.
Trabalhamos, pelo menos aqueles que entendem o que significa a carreira que abraçaram e que são a quase totalidade dos juízes, por um ideal de Justiça, assim como os jornalistas trabalham pelo ideal da Verdade.
São carreiras que trabalham por um mundo melhor e que se aliadas trariam a Justiça e a Verdade e por isso abracei a ambas em minha formação universitária.
Não posso calar que me dói duplamente ver jornalistas com jota minúsculo escrevendo sem apurar os fatos e fazendo generalizações inverídicas e falaciosas baseadas em escassos exemplos de juízes com jota minúsculo, que envergonham a Magistratura.
Se há magistrados não vocacionados, que em algum momento se perderam na burocracia e na falsa ilusão de que algum poder a toga lhes dá, além daquele de ajudar as pessoas a resolver suas lides e viver melhor, que sejam expelidos do sistema, como uma célula doente que afeta um corpo que é são, mas que não sejam utilizados por estes jornalistas, que parecem achar que defender sua opinião pode ser mais importante que a própria verdade, para destruir o próprio corpo, como forma de combate à doença.
Talvez seja chororô sim, em nome dos juízes e jornalistas com jota maiúsculo que um dia ousaram sonhar com um país. Penitencio-me em nome dos bons juízes e jornalistas, que certamente não se orgulham do país baseado na verdade, na Justiça, na democracia e na separação dos poderes, independentes e fortes!

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