domingo, 8 de maio de 2011

A poesia de Ariano Suassuna

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ARIANO SUASSUNA
Para realizarmos uma análise lexicográfica, inicialmente, faremos um breve comentário sobre a Teoria da Metáfora Conceitual, em seguida, apresentaremos o autor e sua obra. Dando continuidade ao estudo, iniciarmos a analise propriamente dita com o mapeamento e a classificação das metáforas encontradas nos poemas. Concluída a análise, apresentaremos as principais constatações nas considerações finais

De acordo com a Teoria da Metáfora conceitual (TMC) , devemos conceber a metáfora não como um desvio linguístico ou um adorno figurativo, como pregava a visão tradicional sobre o uso metafórico da linguagem, mas sim como um elemento constitutivo dessa linguagem, muitas vezes usado inconscientemente, e que ocorre a partir de relações cognitivas estabelecidas entre conceitos, independentemente de estilos ou estéticas. Desse modo, a metáfora não é vista apenas como elemento do texto literário, mas como elemento constitutivo de qualquer discurso humano, inclusive do científico, independente do tema ou da situação. Assim, o estudo da metáfora conceitual se afasta da estilística tradicional e se aproxima da linguística cognitiva.

Fundamentos teóricos

Segundo, Pelosi et all (2008), a TMC pode ser estudada em duas versões: a primeira nos leva aos estudos de Lacoff (1985), já realizados com bases em estudos de Lacoff e Johnson (1980). Nessa tese, Lacoff, defende a ideia de que a as metáforas linguísticas são materializações de metáforas cognitivas. Ou seja, antecedendo cada metáfora linguística, temos uma relação cognitiva estabelecida entre conceitos, no plano mental. O que nos leva a concluir que, cada metáfora linguística só existe porque, "por trás" dela temos uma metáfora conceitual.

Das metáforas

Partindo dessa constatação, Lacoff classifica as metáforas em orientacionais, ontológicas e estruturais, considerando os tipos de relações conceituais estabelecidas pelo nosso cérebro. Assim, ele define as metáforas orientacionais como sendo aquelas em que resultam das experiências do nosso corpo nas orientações espaciais não metafóricas, como: dentro-fora, frente-atrás, em cima-embaixo etc. Essas orientações geram metáforas cognitivas do tipo: "Menos épara baixo, mais é para cima".

Estas, por sua vez, podem ser evidenciadas em metáforas linguísticas do tipo: Nossa aceitação no mercado caiu muito neste final de ano, ou O número de acidentes no trânsito continua subindo em Fortaleza nos últimos anos. As metáforas ontológicas, como explica Lacoff, "implicam em projetar características de entidade ou substância sobre algo que não tem essas características de maneira inerente". (1985, p.51). Entenda-se aqui entidades como coisas e como seres. São comuns, nesse caso, as ocorrências de personificações, como exemplifica Pelosi et all (2008, p.139): ( Texto I)

Outro olhar

Na segunda versão apresentada por Pelosi et all (2008), trata-se de uma reformulação feita por Lacoff e Johnson (1999), com base nos estudos de Grady (1997a, 1997b). Nessa nova versão da teoria, os linguistas apresentam duas classificações para as metáforas conceituais: metáforas correlacionais e metáforas de semelhança. As correlacionais, segundo o pensamento de Pelosi, são reelaborações das metáforas orientacionais, ontológicas e estruturais. As metáforas de semelhança, de acordo com Grady (1997a, 1997b), que repensou esta teoria tendo por base estudos já realizados por Lakoff e Turner (1989), são aquelas que ocorrem, não pela relação estabelecida entre conceitos, mas sim entre imagens mentais. As metáforas de semelhança ocorrem a partir da relação de similitude, ou mapeamento, que a mente do sujeito estabelece entre essas imagens.

Nesse sentido podemos afirmar que, na literatura, predominam as metáforas de semelhança, dada a natureza do texto literário, mais fértil a esse tipo de ocorrência. Do mesmo modo que, em outros textos, como o jurídico, o técnico, o clínico ou, os científicos em geral, registramos mais a ocorrências das metáforas correlacionais, pela natureza mais conceitual e menos ficcional ou poética desses gêneros textuais. Na nossa análise, adotaremos a classificação de Grady (1997), por considerarmos a metáfora de semelhança mais adequada à análise do texto poético.

Criador e criatura

"Um homem de mil faces", "um contador de histórias", "o cabreiro tresmalhado", "um sertanejo universalizado", "um intelectual", "um professor-artista", "o barão do saber", "dramaturgo e romancista", "um guerreiro armorial", "um criador". Estas são algumas das expressões que definem Ariano Suassuna, na tentativa de expressar as múltiplas faces do Criador e da sua criação.

Essa pluralidade nos alerta para a constatação de que falar sobre Ariano Suassuna e sua obra é, ao mesmo tempo, um prazer e um perigo. Prazer que surge junto ao desejo de investigar e descobrir os muitos veios que o universo imensurável dessa obra nos oferece; perigo, pelo risco de sermos repetitivos sabendo sobre tudo que já foi dito sobre autor e obra.

Principalmente se lembrarmos a sua fortuna crítica, até 2007, já era constituída de seis teses de doutorado: em Teoria da Literatura (RJ); em Geografia (SP); em Lingüística (duas/RGS); em Ciências Sociais (duas, na França, Sorbone); somadas às oito dissertações de mestrado: em Lingüística (SP); em Literatura (seis: BR/ CE/ PB/ PE e RJ) e, em Sociologia (PE). Isso até a nossa última pesquisa datada de junho de 2009. Obviamente, se garimparmos agora, a lista das produções acadêmicas em torno da obra de Suassuna já se proliferou. Além dos artigos e entrevistas em jornais, revistas e TV. Toda essa produção crítica se edificou em torno da vasta criação de Suassuna até o momento composta de 5 romances; mais de 10 peças de teatro, muitas premiadas e adaptadas para o cinema e a televisão; prefácios e estudos, mais de 40 títulos publicados; ensaios teóricos sobre estética e artes; dois livros de poesia, além de desenhos, pinturas, aulas-espetáculos, críticas e iluminogravuras, entre outros.

Observando a vastidão da obra, e consciente do risco de aventurar-se sobre obra tão plural e tão explorada; um CD, com poemas musicados de Ariano, foi o objeto de provocação para a análise que desenvolveremos neste artigo. Até então, quase nada conhecíamos da poesia dele. Cessada a hesitação, lançamo-nos sobre aquilo que ao mesmo tempo nos atraia e nos assustava.


FRASE

"Como eu poderia não me misturar com minha obra?... Eu sou passional demais, e tudo isso sou eu..."

ARIANO SUASSUNA
ESCRITOR


Trechos

TEXTO I

"A inflação é um inimigo ou A mente é um recipiente", que dão origem a construções como: A inflação nos derrotará ou Sua mente está repleta de idéia.Por fim, as metáforas estruturais, como esclarece Lacoff, implicam em "estruturas um tipo de experiência ou atividade em termos de um outro tipo de experiência ou atividade".
(1985, p.53). Para exemplificá-la, mais uma vez, recorremos a um exemplo citado por Pelosi et all (2008, p.140): COMPREENDER É VER. Esta metáfora cognitiva pode ser constatada em frase como as seguintes: Não estou vendo onde queres chegar com essa explicação, ou Vejo essa decisão de outro ponto de vista.

HERMÍNIA LIMA

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