Enquanto a maioria dos adolescentes sofre para levantar da cama pela  manhã, Louisa Ball, de 16 anos, pode levar até dez dias para despertar  completamente do sono. Ela sofre de um raro distúrbio neurológico  chamado síndrome de Kleine-Levin (SKL), que já a fez dormir durante  provas, aniversários de amigos e feriados inteiros.
"Eu tinha alucinações e, depois, não me lembrava de nada. De repente  tudo ficava escuro e eu dormia por dez dias. Acordava e tudo estava bem  de novo", disse a jovem à BBC. A doença se manifestou em 2008, quando a  adolescente começou a cochilar nas aulas e a se comportar de forma  estranha.
Louisa  Ball, de 16 anos, pode levar até dez dias para despertar. Ela é  portadora de um distúrbio neurológico raro conhecido como Síndrome de  Kleine-Levin (SKL). (Foto: BBC)Levada ao médico, acabou por ser diagnosticada com a síndrome de  Kleine-Levin, doença cuja causa é desconhecida e sem cura. "Um indivíduo  com SKL terá episódios de sono, geralmente com duração entre uma e três  semanas, com distúrbios cognitivos nas poucas horas em que estiver  acordado", diz Tom Rico, pesquisador do Centro de Narcolepsia e SKL da  Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Segundo ele, a síndrome às vezes se manifesta após infecções ou outras  doenças. Ela geralmente afeta adolescentes do sexo masculino, que também  podem apresentar hipersexualidade, irritabilidade e o hábito de comer  compulsivamente.
"Durante esse período, um paciente dormirá algo entre 16 horas e 22  horas por dia, todos os dias, até o fim do evento." O tratamento  recomendado é permitir que o paciente durma, e não ministrar remédios.
Quando a doença para de se manifestar, conta o médico, o indivíduo  volta a dormir e a se comportar normalmente. Rico diz que não há dados  sobre a prevalência da doença, já que muitos casos jamais são  diagnosticados. A boa notícia é que ela pode desaparecer como surgiu, o  que geralmente ocorre após dez ou 15 anos.
RecordaçõesLouisa diz se lembrar de muito pouco quando acorda de um episódio. "É  tudo branco - sem sonhos. Agora eu recordo mais o que aconteceu. Antes  eu não lembrava nada. Meu pai acha que meu cérebro está aprendendo a  lidar com isso", diz a jovem.
A síndrome quase arruinou os seus planos profissionais, já que ela  dormiu durante a maioria das suas provas. Mas a faculdade permitiu que  ela se matriculasse, e hoje Louisa estuda desempenho e excelência  esportiva. Seu sonho é se tornar uma dançarina.
Louise  vive uma fase de três meses sem nenhum episódio, mas seus pais  continuam a monitorá-la. Durante as crises, médicos recomendam que a  adolescente seja acordada uma vez por dia para receber alimentação e ser  levada ao banheiro. (Foto: BBC)Quando ela acorda, leva alguns dias até que volte completamente à  rotina, e seu corpo fica rígido, dificultando a dança. Médicos disseram à  família que, durante os episódios de sono excessivo, é crucial  acordá-la uma vez ao dia para alimentá-la e levá-la ao banheiro.
Mas Lottie, a mãe, diz que a tarefa pode ser penosa: "Já tentei  forçá-la a se levantar, mas ela começa a suar e fica muito agitada e  agressiva".
Frustrados com a falta de informações sobre a doença na Grã-Bretanha,  seus pais a levaram até o hospital Pitié-Salpétrière, em Paris, onde  pesquisadores avaliam se o distúrbio pode ter sido causado por um gene  defectivo.
Boa faseAtualmente, Louisa vive uma fase boa: faz mais de três meses que não  tem nenhum episódio da doença e, há algumas semanas, ganhou uma  competição de dança. Mas seus pais continuam a vigiá-la em busca de  sinais do distúrbio.
"Às vezes eu penso 'por que eu?', já que sempre fui uma pessoa  saudável. Mas de repente aconteceu e não há motivos. Isso me frustra",  diz a jovem. "Mas agora me acostumei e aprendi a viver com isso. Sou uma  garota especial."
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