Juiz já não se sentia "confortável" no primeiro grau
"Bagagem jurídica vai fazer falta", afirma repórter"A promoção do juiz federal Fausto Martin De Sanctis ao cargo de desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região vai deixar uma lacuna no combate aos crimes financeiros", afirma o repórter Flávio Ferreira, em gravação na Rádio Folha.
"De Sanctis é o titular de uma das duas varas especializadas neste tipo de delito na Justiça Federal de São Paulo, onde estão os casos mais importantes do país sobre lavagem de dinheiro, fraudes financeiras e evasão de divisas, como os processos relativos à Operação Satiagraha da Polícia Federal", afirma o jornalista.
"Em boa parte dos seus 19 anos de carreira como juiz federal, De Sanctis acumulou experiência e conhecimento que, aliados ao seu rigor na aplicação da lei, levaram à condenação de muitos distintos senhores de colarinho branco. Toda essa bagagem jurídica agora vai fazer falta para a primeira instância do Judiciário", comenta Ferreira.
Ele cita declaração do ministro Gilson Dipp, no encontro da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Enccla), na semana passada, em Florianópolis. O ex-corregedor nacional de Justiça alertou para a falta de capacitação dos juízes brasileiros para acompanhar inquéritos e julgar delitos financeiros.
Dipp foi o mentor de um seleto grupo de magistrados que se especializou em julgar crimes financeiros e de lavagem de dinheiro, do qual De Sanctis faz parte.
Em homenagem ao ministro do STJ, eles chegaram a publicar um livro sobre lavagem de dinheiro. A obra reúne artigos dos juízes federais José Paulo Baltazar Junior, Sergio Fernando Moro, Abel Fernandes Gomes, Cassio M. M. Granzinolim, Danilo Fontenele Sampaio Cunha, Gerson Godinho Costa, Jorge Gustavo Serra de Macedo Costa, além de De Sanctis.
Em agosto deste ano, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, o editor deste Blog perguntou a De Sanctis em que medida a decisão de deixar a primeira instância tinha a ver com o desencanto de magistrados de primeiro grau diante da dificuldade em ver definitivamente condenados os criminosos de colarinho branco, por causa de decisões do Supremo Tribunal Federal.
Foi mencionado, na ocasião, o desabafo do juiz federal Sergio Moro, que se questionava, como juiz criminal, "se vale a pena dar impulso a ações penais em relação a crimes de colarinho branco, já que, de antemão, sabe que estão fadadas ao fracasso".
De Sanctis admitiu que não se sentia "confortável".
Explicou que, em 2008, quando houve a possibilidade de ir para o TRF-3, decidira ficar na Vara Criminal, pois gostava do que fazia e sentia que ainda não havia encerrado uma etapa. "O conjunto da obra me seduz", disse, referindo-se aos 2.500 feitos e 1.000 inquéritos.
Depois de mencionar "a ineficácia total" de um sistema em que "não existe um mínimo de coesão e coerência", que "aceita todo e qualquer tipo de recurso" e "liminares dadas com certa facilidade", exemplificando com os 45 habeas corpus num único processo, De Sanctis relatou o "asfixiamento" a que os juízes de primeiro grau estavam submetidos.
Citou que, nos processos com vários réus, há múltiplos "pedidos de vista" e "pedidos de cópias", para que os casos não sigam adiante.
Finalmente, referiu-se ao que chamou de "falta de respeito institucional". Disse que "existe uma parte que intimida, que diz que vai ao CNJ".
"Vai chegar o tempo em que vão chutar a porta do juiz", concluiu.
Semanas depois, durante entrevista com o ministro Dipp, o editor deste Blog pediu ao ex-corregedor que comentasse o desabafo de De Sanctis.
Dipp afirmou: "O trânsito em julgado no Brasil para crimes financeiros é uma quimera, um sonho. O juiz fica frustrado quando uma sentença sua não chega ao final."
"Há uma pergunta que fica no ar: por que nos crimes comuns, crimes hediondos praticados por réus menos dotados financeiramente, o trânsito em julgado se atinge com muito mais frequência e mais assiduidade? Por que nos crimes financeiros e de colarinho branco o trânsito em julgado se torna tão difícil?"
"Temos juízes altamente especializados e preparados, juízes de lavagem de dinheiro. Alguns foram estigmatizados pela notoriedade, são talvez os juízes mais bem preparados do mundo em cooperação internacional, em crimes econômicos", comentou Dipp.
Como observou o repórter Flávio Ferreira, "ao ir para o tribunal, é muito provável que De Sanctis faça parte de uma turma julgadora que vai decidir casos previdenciários, e tudo o que ele aprendeu e desenvolveu ao cuidar de crimes financeiros não servirá para nada".
"Bagagem jurídica vai fazer falta", afirma repórter"A promoção do juiz federal Fausto Martin De Sanctis ao cargo de desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região vai deixar uma lacuna no combate aos crimes financeiros", afirma o repórter Flávio Ferreira, em gravação na Rádio Folha.
"De Sanctis é o titular de uma das duas varas especializadas neste tipo de delito na Justiça Federal de São Paulo, onde estão os casos mais importantes do país sobre lavagem de dinheiro, fraudes financeiras e evasão de divisas, como os processos relativos à Operação Satiagraha da Polícia Federal", afirma o jornalista.
"Em boa parte dos seus 19 anos de carreira como juiz federal, De Sanctis acumulou experiência e conhecimento que, aliados ao seu rigor na aplicação da lei, levaram à condenação de muitos distintos senhores de colarinho branco. Toda essa bagagem jurídica agora vai fazer falta para a primeira instância do Judiciário", comenta Ferreira.
Ele cita declaração do ministro Gilson Dipp, no encontro da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Enccla), na semana passada, em Florianópolis. O ex-corregedor nacional de Justiça alertou para a falta de capacitação dos juízes brasileiros para acompanhar inquéritos e julgar delitos financeiros.
Dipp foi o mentor de um seleto grupo de magistrados que se especializou em julgar crimes financeiros e de lavagem de dinheiro, do qual De Sanctis faz parte.
Em homenagem ao ministro do STJ, eles chegaram a publicar um livro sobre lavagem de dinheiro. A obra reúne artigos dos juízes federais José Paulo Baltazar Junior, Sergio Fernando Moro, Abel Fernandes Gomes, Cassio M. M. Granzinolim, Danilo Fontenele Sampaio Cunha, Gerson Godinho Costa, Jorge Gustavo Serra de Macedo Costa, além de De Sanctis.
Em agosto deste ano, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, o editor deste Blog perguntou a De Sanctis em que medida a decisão de deixar a primeira instância tinha a ver com o desencanto de magistrados de primeiro grau diante da dificuldade em ver definitivamente condenados os criminosos de colarinho branco, por causa de decisões do Supremo Tribunal Federal.
Foi mencionado, na ocasião, o desabafo do juiz federal Sergio Moro, que se questionava, como juiz criminal, "se vale a pena dar impulso a ações penais em relação a crimes de colarinho branco, já que, de antemão, sabe que estão fadadas ao fracasso".
De Sanctis admitiu que não se sentia "confortável".
Explicou que, em 2008, quando houve a possibilidade de ir para o TRF-3, decidira ficar na Vara Criminal, pois gostava do que fazia e sentia que ainda não havia encerrado uma etapa. "O conjunto da obra me seduz", disse, referindo-se aos 2.500 feitos e 1.000 inquéritos.
Depois de mencionar "a ineficácia total" de um sistema em que "não existe um mínimo de coesão e coerência", que "aceita todo e qualquer tipo de recurso" e "liminares dadas com certa facilidade", exemplificando com os 45 habeas corpus num único processo, De Sanctis relatou o "asfixiamento" a que os juízes de primeiro grau estavam submetidos.
Citou que, nos processos com vários réus, há múltiplos "pedidos de vista" e "pedidos de cópias", para que os casos não sigam adiante.
Finalmente, referiu-se ao que chamou de "falta de respeito institucional". Disse que "existe uma parte que intimida, que diz que vai ao CNJ".
"Vai chegar o tempo em que vão chutar a porta do juiz", concluiu.
Semanas depois, durante entrevista com o ministro Dipp, o editor deste Blog pediu ao ex-corregedor que comentasse o desabafo de De Sanctis.
Dipp afirmou: "O trânsito em julgado no Brasil para crimes financeiros é uma quimera, um sonho. O juiz fica frustrado quando uma sentença sua não chega ao final."
"Há uma pergunta que fica no ar: por que nos crimes comuns, crimes hediondos praticados por réus menos dotados financeiramente, o trânsito em julgado se atinge com muito mais frequência e mais assiduidade? Por que nos crimes financeiros e de colarinho branco o trânsito em julgado se torna tão difícil?"
"Temos juízes altamente especializados e preparados, juízes de lavagem de dinheiro. Alguns foram estigmatizados pela notoriedade, são talvez os juízes mais bem preparados do mundo em cooperação internacional, em crimes econômicos", comentou Dipp.
Como observou o repórter Flávio Ferreira, "ao ir para o tribunal, é muito provável que De Sanctis faça parte de uma turma julgadora que vai decidir casos previdenciários, e tudo o que ele aprendeu e desenvolveu ao cuidar de crimes financeiros não servirá para nada".
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