segunda-feira, 26 de julho de 2010

Historiador diz que jornalistas erraram ao assumir a gestão do Le Monde

O historiador Patrick Eveno, autor do livro "Histoire du Journal Le Monde" (História do jornal Le Monde, sem previsão de lançamento no Brasil), ponderou o sucesso da venda do jornal francês Le Monde e disse que se o grupo não ajustar suas contas de nada terá adiantado a negociação.
Acumulando dívidas há anos, o periódico foi vendido no final de junho para os empresários Matthieu Pigasse, Pierre Bergé, e Xavier Niel. Através da SRM (Sociedade dos Redatores do Monde), os jornalistas têm poder de decisão sobre os rumos do jornal. E essa é a principal crítica do historiador.
Segundo a Folha.com, o Le Monde e a SRM se tornaram referência mundial ao vender a imagem de que a independência do jornal se devia à ação dos redatores na gestão do diário. Para o historiador, no entanto, isso não é exatamente verdade.
"Os jornalistas tomaram um caminho errado quando detiveram uma parte do capital como chave para sua independência. Eles teriam feito melhor se tivessem se ocupado de seu trabalho de jornalistas e se voltado para seus leitores, os verdadeiros garantidores da independência de um jornal", afirmou o historiador.
Eveno ainda disse que todo jornal precisa de um grupo econômico sólido para sobreviver, mas a imprensa francesa seguiu outro caminho.
"Todos os diários [franceses] são deficitários e subvencionados pelo Estado. Lá, os jornais, ocupados demais com os aspectos políticos, não souberam apostar ou não acreditaram nos grupos de imprensa. E eles não interessam aos grupos de mídia porque são caros e não são rentáveis. Eles atraem apenas investidores em busca de influência ou reconhecimento."
"A cogestão entre o diretor e a SRM conduz a uma crise de comando e a uma sucessão de crises financeiras", disse. A saída para os jornais, segundo o historiador, é manter seu prestígio na sociedade.
"Um dos motivos de sucesso dos jornais é, sim, o prestígio na opinião pública. O Monde foi um jornal muito prestigioso, 'o jornal de referência'. Ele conserva uma parte de seu prestígio, mas se os novos acionistas quiserem impor suas concepções editoriais, o jornal perderá seu prestígio e seu dinheiro, pois os leitores se atraem pela independência.

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