terça-feira, 10 de novembro de 2009

Legalidade

Outro dia eu conversava com um Deputado, quando ouvi dele algo que me deixou meio encabulado. Mas, antes de continuar, eu peço licença para não citar nomes, até porque o que interessa aqui é o milagre e não o santo.
Dito isso vamos ao que interessa. O legislador em questão me disse que se existe algo difícil de propor a um poder legislativo, é aquilo para o qual ele existe e é denominado de Lei. E argumentou com palavras coerentes, acrescentando à sua tese todas as dificuldades existentes para que uma nova lei seja aprovada e conseqüentemente levada a sério. As justificativas apresentadas são merecedoras de análises e inclui nelas verbas para viabilizar seu contexto, fiscalização e etc…

Eu concordei em parte, até porque o que não falta neste País são leis. E todas elas desrespeitadas, na contumácia brasileira do maucaratismo desavergonhado e irrestrito. A lei que rege o trânsito, por exemplo, sempre parece interpretada como uma simples e mera sugestão e, como tal, possível de ser acatada ou não. E isso inclui a nossa famosa e já desgastada lei etílica, cujo descarado desrespeito continua a fazer vítimas fatais por todas as bêbadas, tortuosas e esfarrapadas ruas, avenidas e estradas brasileiras. O tráfico de drogas ri às gargalhadas da legislação que o transforma em crime, e continua cobrindo o País inteiro com o manto funesto das desgraças familiares, enquanto aumenta seu exército de crianças armadas e assassinas.
Realmente criar novas leis neste Brasil é algo quase impossível. E o que se vê por aí são tentativas, dessas que visam mais o marketing político do que benfeitorias a serem usufruídas pelo povo.
Daí eu fiquei pensando pra ver se conseguia enxergar a real utilidade do Poder Legislativo. Então parti pra segunda hipótese. E pelo que sei esse poder existe também para fiscalizar os mandos e desmandos dos outros poderes, para que assim as pedras imensas das falcatruas não passem pela peneira, hoje toda furada, da legalidade.
Fiquei triste.Também não é por aí que a banda toca. Os poderes hoje se unem em casamento e juras de amor eterno, em conjunções estranhas amarradas pelas benesses do poder e regadas a interesses econômicos. Não é por acaso que isso é chamado de aliança , que são trocadas no altar ateu da ambição e do venha nós o vosso reino, tendo por tras os impostos suados de todo o povo.

Muito bem. E se não é pra criar leis e se não é pra fiscalizar, pra que diabos serve isso? A resposta vem em golfadas de informações nas páginas dos jornais, nos sites eletrônicos, na televisão, nas rádios e nas bocas de matildes. A impressão deixada é a de um poder institucional figurativo, como um jarro de flores de plástico, a mostrar que a sala da democracia merece cuidados especiais, mesmo com enganação.
E as noticias são muitas. E dão conta da real utilidade desse amontoado de excelências espalhadas pelo Brasil inteiro, teúdos e manteúdos com o nosso dinheiro. Deputados e Senadores servem pra gastá-lo a bel prazer. Em viagens oníricas por todos os quadrantes do planeta. Para serem bancados em quaisquer gastos, e que os simples mortais têm que pagar com o próprio bolso. Deputados e Senadores servem para apoiar Governadores e Presidentes da República, não importando se as ordenações vão de encontro aos interesses dos brasileiros. Deputados servem para contratar apaniguados de toda ordem e com o objetivo único de manter ativos seus respectivos currais de eleitores.
Deputados servem para aparecer na mídia, querendo verbas públicas para aparecer mais ainda na mídia, ao revés do que propõe a lesgislação específica sobre o assunto. Legisladores servem para grandes festas ou recepções de finos rega bofes, sem interesse nenhum para quem quer que seja, a não ser para eles. Servem também para negociar apoio em troca de poder ou de dinheiro. Para conseguir que concorrências sejam entregues a parceiros da iniciativa privada. Para distribuir verbas publicitárias e amordaçar bocas faladoras ou transformar tudo o que sai delas, em elogios.
E não é só isso. Existem muito mais coisas entre o voto e o poder do que imagina a nossa vã filosofia. E que Deus me perdoe se estiver caluniando quem não merece. E mesmo tendo que salvaguardar as exceções de tão perniciosa regra, espero urgentemente que alguém me corrija.

Ou cale-se para sempre.

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