quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Zaratustra

Uma leitora, picada pela minha referência ao discurso de Zaratustra, pediu-me que eu dissesse mais aquilo que ele disse ao povo que se ajuntara na praça para ver o espetáculo do equilibrista. O texto é longo. Não posso transcrevê-lo todo. Vão alguns aperitivos. Eu lhes ensino o homem transbordante. Na verdade o homem é um rio poluído. É preciso ser um mar para receber um rio poluído sem ficar impuro. Eu lhes ensino o homem transbordante. Ele é o mar. Ele é um relâmpago, um frenesi. O homem é uma corda amarrada entre a besta e o homem transbordante – uma corda sobre o abismo. O que há de grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem é que ele é uma abertura e um mergulho. Eu amo aqueles que não precisam primeiro olhar atrás das estrelas para encontrar uma razão para mergulhar e se transformarem num sacrifício, mas que se sacrificam livremente pela terra... Eu amo aquele que não quer ter muitas virtudes. Uma virtude é mais que duas... Eu amo aquele que tem um espírito livre e um coração livre porque assim sua cabeça nada mais é que as entranhas do seu coração... É chegado o tempo para o homem plantar a semente de sua esperança mais alta. O seu solo ainda é rico o bastante. Mas um dia o solo ficará pobre e domesticado e nenhuma árvore alta será capaz de crescer nele. O tempo está chegando em que o homem não mais será capaz de lançar a flecha da sua nostalgia além de si mesmo e a corda do seu arco se esquecerá de como vibrar. O tempo está chegando quando o homem não mais será capaz de dar à luz uma estrela. Nenhum pastor! Um grande rebanho. Todos desejam a mesma coisa. Quem quer que tenha sentimentos diferentes vai voluntariamente para o hospício de loucos. Eu vim para seduzir muitos a sair do rebanho. Veio-me então uma iluminação: preciso de companheiros – não de companheiros mortos e cadáveres que carrego comigo por onde quer que eu vá. Preciso de companheiros vivos que me seguem porque desejam seguir a si mesmos... Nunca mais falarei ao povo. Não sou boca para esses ouvidos. Falei pela última vez aos mortos...”

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