segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Pobre de vós, ingratos!

José Renato Nalini

A ingratidão é companheira frequente do ser humano. No momento da necessidade, todos os pudores são varridos para debaixo do tapete. Obtido o favor, ou decorrida a hora mísera, olvida-se quem ajudou ou tentou ajudar. Se assim é na rotina do relacionamento, não é menor quanto a figuras exponenciais a quem uma comunidade inteira deve algo. O esquecimento por atacado é também muito comum.

Quem é que ainda reverencia, com a devoção merecida, a figura de José Feliciano de Oliveira? Ele nasceu a 6.3.1868, em Jundiaí. Prolífico autor, foi jornalista e educador. Colaborou durante mais de 50 anos no Estadão e em 1885 foi diretor da Revista dos Novos e fundou o Gabinete de Leitura.

Nomeado professor de Mecânica e Astronomia da Escola Normal de São Paulo, a famosa “Caetano de Campos”, foi consultado a respeito da profecia de Falb que anunciava o fim do mundo para 1900. Estudou e escreveu um livro erudito e documentado sobre Cometas, Bólides e Estrelas cadentes.

Mais tarde publicou um estudo sobre o cometa Halley, com observações pessoais obtidas num laboratório que construiu às suas expensas, na Rua da Consolação. Foi recebido com glórias no Instituto Histórico do Rio de Janeiro, em virtude de sua obra O Descobrimento do Brasil, com elogio do Visconde de Ouro Preto. Para defender a bandeira brasileira contra o ataque de alguns monarquistas, escreveu minuciosa biografia sobre a origem heráldica do pendão. Explicou o significado astronômico da bandeira e justificou a disposição das linhas das constelações, que eterniza o dia e a hora da proclamação da República.

Defendeu Tiradentes, mal compreendido por Varnhagen e também José Bonifácio, sobre o qual publicou o livro “José Bonifácio e a Independência”. Seria seguido de uma segunda obra, que preparou com carinho: José Bonifo sábio, o poeta, o filósofo e o planejador de nosso futuro.

Com esse intuito empregou várias semanas no Rio de Janeiro, em 1952, consultando e copiando documentos, notas e manuscritos do Patriarca. Infelizmente, não chegou a levar a cabo essa empreitada. Quem ainda visita a sua tumba no cemitério de Nossa Senhora do Desterro e ali deposita uma flor ou se detém para uma prece?

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium.

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